Do que os homens têm medo?
Publicado por Anaïs em 17.8.2007 às 16:12Depois de tanta polêmica nos últimos artigos, ficou a sensação de que estou aqui muito mais para provocar do que para agradar.
Verdade?!?! É, pode ser… ou não.
Não costumo ter opiniões que se alinhem com a maioria, que sigam o padrão, o convencional, o confortável de ouvir. Mas antes que me queiram pôr para correr, aviso amigavelmente que aqui no Papo de Homem, assim como na minha vida, não terei nunca a pretensão de expor minhas idéias como uma verdade inexorável.
Não espere encontrar as típicas opiniões femininas nos artigos de nossa querida Anaïs
Apenas utilizo a liberdade de expressão, um direito de todos, e obviamente não espero que todos concordem comigo.
Desculpem-me inclusive se elas parecerem excessivamente simplistas, mas não pretendo criar textos complexos, embasados cientificamente. Antes de mais nada, refletirão uma percepção pessoal e feminina sobre determinado assunto, baseada em observações, vivência e inter-relacionamentos, e funcionarão como um gostoso ou controvertido bate-papo, tipo aqueles de boteco.
Das últimas discussões aqui, ficou a impressão de pelo menos ter lançado uma semente de dúvida nas certezas inabaláveis de cada um, assim como uma saudável provocação. Quem já me conhece do meu extinto blog, deve ter percebido que tenho uma alma provocadora, que vai continuar se expressando por aqui, mas de outra forma.
E por falar em boteco, retirei esta conversa dos últimos comentários sobre infidelidade:
A - …mas ainda sempre vale “não faça pros outros o q vc num gostaria q fizesse com vc”…vale pra uma boa vivencia…
B - me lembrei de uma conversa de boteco na qual essa frase foi dita. A conclusão?
“Nunca mais proponho sexo anal para minha parceira”
Esse papo me fez lembrar uma lista de argumentos que criei certa vez para usar no momento desta famigerada proposta, onde o argumento final, depois que todos falhavam, era:
10 - você aceita, mas faz este pedido: “tá bom, eu deixo, mas com uma condição, posso fazer um “fio terra” antes em você amor?”
Não que eu seja contra o sexo anal, muito pelo contrário. Mas como homem gosta muito e vive querendo bis, sou apenas partidária de uma freqüência bastante reduzida, já que o ato traz em si uma carga agressiva e deve ser feito com todo cuidado e carinho.
Não é novidade para ninguém o quanto os homens adoram sexo anal. Oops… rs, corrigindo: o quanto eles gostam de praticá-lo em suas parceiras. Mas, vá você, namorada, esposa ou amante, propor qualquer jogo sexual que envolva algum tipo de manipulação anal no seu parceiro.
Qual a resposta mais freqüente? Deverá ser mais ou menos esta:
“Está me estranhando é?? Esse daqui é via de mão única!”
Claro que existem as exceções, muito raras, obviamente. Durante toda minha vida sexual, que não é curta, encontrei apenas 3 homens que toparam tal jogo e um deles foi o melhor parceiro que tive até hoje.
O conceito de masculinidade elaborado socialmente impõe que “homem que é homem” deve evitar gestos, palavras e atitudes que estejam em desacordo com o tal conceito. Daí, então, os traseiros masculinos tornam-se terreno proibido para qualquer exploração deste tipo.
De minha parte admiro homens que tenham coragem e naturalidade diante deste tabu, homens assim passam muita segurança acerca da sua masculinidade. Homens que encaram o sexo de forma aberta, sem preconceitos ou restrições. A ereção e excitação masculinas são muito mais intensas quando existe estimulação anal, e sentir prazer desta forma não é condição sine qua non para ser gay. Todo homem realmente seguro de sua masculinidade deve saber disto.
O comportamento homofóbico da maioria dos homens parece ocultar um medo. É certo que o universo masculino é cercado de vários medos: medo de falhar na hora H, medo de ser traído sexualmente, medo de ter um pênis muito pequeno… e por aí vai.
Onde fica toda a conversa sobre ter certeza absoluta de sua masculinidade
Em outra ocasião falarei de cada um, agora vou me deter em apenas um: como será este medo que ronda o traseiro de cada um deles? O medo de sentir prazer na região proibida e de deduzir em seguida que, se gosta, deve ser homossexual.
Daí, depois desta dedução, para onde irão todas as certezas acerca da própria masculinidade? Complicado… ou não. Acho que este comportamento no fundo demonstra uma insegurança enorme. Afinal os homens têm ou não têm certeza de sua masculinidade? Porque a manipulação de determinada área do seu corpo pode colocar em risco a crença em sua macheza?
Imagine uma pessoa dizendo que não gosta de determinado alimento sem nunca tê-lo provado, guiado apenas pela repulsa visual. Na verdade não se sabe se gosta ou não, mas nega-se incisivamente, instintivamente. Sentir prazer nessa região é uma coisa natural; fisiologicamente falando, a região anal é uma das principais zonas erógenas do corpo masculino e sua manipulação pode trazer extremo prazer ao homem.
Encarar este fato naturalmente, sem fobias, é que considero um ato de masculinidade, um ato de segurança e coragem. Esse “medinho” parece coisa de “mulherzinha” (parafraseando os machos de plantão, rs), vocês não acham?!?
Outro fantasma é o exame de próstata, o famigerado exame que deixa os homens de cabelo em pé, alguns chegam ao cúmulo de recusarem-se, arriscando a própria saúde, acham humilhante e constrangedor, e os que fazem evitam tocar no assunto depois. Que fardo terrível encarar a masculinidade desta forma. Libertem-se!
Sentir prazer através da região anal não significa ter tendência homossexual. Essa condição envolve uma série de fatores e o principal é o envolvimento amoroso, é o gostar de outro homem e realizar-se sexual e amorosamente com ele.
Existe um filme que aborda esta questão de forma precisa: O segredo de Brokeback Mountain tem um enfoque sério e livre de estereótipos, trata essencialmente do amor, essa é a chave da questão. A fobia do mundo machista é tão grande e cega que intitulou pejorativamente, um filme que aborda seriamente questões amorosas e de opção sexual, de “faroeste gay”.
Pois bem, eu proponho que revejam seus conceitos sobre masculinidade ou homossexualidade masculina. Pensem a respeito (não vai doer nada, rs) e da próxima vez que sua parceira sugerir uns jogos sexuais menos convencionais, liberte-se dos preconceitos, liberte-se da homofobia, liberte-se da insegurança e prove ao menos para saber se é bom. Se for, ótimo!
No mínimo estarão enriquecendo a vida sexual do casal, afinal uma pimentinha é ótima para aquecer a relação (mas não esqueçam do KY, rs). E no máximo estarão tirando um fardo enorme de suas costas: esse medo que vive rondando o traseiro de cada homem. Encare!
Anaïs pode afirmar que a experiência é muito boa, tanto para o homem quanto para a mulher. Mas, também acredita que tem muito machão por aqui torcendo o nariz para esse artigo. Por que será?
(*)Para finalizar, deixo estes verbetes a título de reflexão:
Macho: s. m., animal do sexo masculino.
Homem: s. m., animal mamífero, bípede, bímano, racional e sociável que, pela sua inteligência e pelo dom da palavra, entre outros aspectos, se distingue dos outros seres organizados.
Anais é uma de nossas leitoras favoritas aqui na Papo de Homem. Sempre participa com comentários e deixou muita saudade ao desativar seu blog pessoal Vou te Contar. À pedidos de uma legião de fãs, ela está de volta e vai por aqui participar como colaboradora pra lá de especial.
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